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Renan Leopoldo

Resiliência no supply chain e os desafios do comércio global

Resiliência no supply chain e comércio global

Diante da pandemia de Covid-19, do aumento das tensões geopolíticas e de obstáculos no comércio internacional, como a guerra comercial entre Estados Unidos e China e as dificuldades no trânsito naval no Mar Negro, o comércio global se encontra em uma encruzilhada desafiadora e complexa. Essas mudanças têm impactado não apenas o mercado, mas também as economias globais e as relações políticas, criando tanto obstáculos quanto novas oportunidades.

Esse cenário foi classificado como a 2ª maior tendência para o Supply Chain Global em 2025, segundo a Association of Supply Chain Management (ASCM), que apresentou suas previsões no evento Connect North America deste ano, no Texas. Nos bastidores, o tema da resiliência ganhou destaque, gerando discussões sobre estratégias para lidar com um ambiente de crescente incerteza.


Algumas das principais tendências discutidas incluem:


Nearshoring e diversificação regional

Com o intuito de proteger suas cadeias de suprimento, empresas e países têm migrado parte de suas produções para áreas geograficamente próximas e menos vulneráveis a choques externos. Esse movimento, chamado de "nearshoring," promove maior segurança operacional e reduz a dependência de regiões instáveis.


O retorno do protecionismo

Nos últimos anos, o protecionismo voltou a ganhar força, impulsionado por líderes que adotam políticas nacionalistas, como Donald Trump nos EUA. A imposição de tarifas e sanções contra parceiros comerciais afetou profundamente os fluxos de mercadorias e investimentos, aumentando a imprevisibilidade no comércio global e incentivando países a reverem suas estratégias.


Gestão de riscos proativa

Estratégias de mitigação de riscos, como a criação de estoques de segurança e a adoção de fornecedores e fábricas regionais, são cada vez mais valorizadas. Como grande exportador de commodities, o Brasil vê oportunidades de se destacar e atrair investimentos ao adotar medidas que garantam o abastecimento contínuo e seguro.


Sustentabilidade e critérios ESG

Empresas ao redor do mundo têm dado prioridade a fornecedores que cumpram padrões de ESG (ambientais, sociais e de governança). O Brasil, importante exportador de produtos agrícolas e minerais, enfrenta pressões para que suas cadeias produtivas cumpram esses requisitos, sobretudo em setores como o agronegócio, onde a sustentabilidade pode determinar a competitividade global.


Transformação tecnológica para monitoramento e previsibilidade

Ferramentas como inteligência artificial, blockchain e Internet das Coisas (IoT) estão revolucionando o supply chain, permitindo previsões mais precisas e um rastreamento detalhado. Essas tecnologias otimizam operações e aumentam a resiliência das empresas em um ambiente em rápida transformação.


Controle estratégico da tecnologia

A corrida pela liderança tecnológica entre as potências, especialmente entre EUA e China, se tornou uma questão de segurança nacional, envolvendo o controle de tecnologias críticas como 5G, semicondutores e inteligência artificial. Sanções tecnológicas e restrições de exportação são usadas para limitar o avanço de competidores, o que afeta diretamente o comércio global.


Geopolítica energética e recursos naturais estratégicos

A competição por recursos estratégicos, como o lítio, e a transição energética global estão moldando o comércio mundial. As políticas de energia limpa na União Europeia, por exemplo, criam novas demandas e oportunidades no mercado de renováveis. Em paralelo, tensões em regiões ricas em petróleo e gás, como o Oriente Médio, continuam a influenciar diretamente o comércio de energia.


Segurança de recursos e diversificação de fornecimento

A crise energética europeia, agravada pela redução do fornecimento de gás russo, gerou um aumento na demanda por combustíveis alternativos, beneficiando exportadores como o Brasil. O país, com sua abundância de recursos naturais, está em posição de se tornar um fornecedor estratégico de matérias-primas essenciais, desde o minério de ferro até o lítio.

Hoje, o comércio global não se limita ao aspecto econômico, mas é influenciado profundamente pela geopolítica, tecnologia e sustentabilidade. Empresas e governos precisam responder a essas transformações com resiliência e adaptabilidade, enfrentando um novo paradigma onde decisões políticas, avanços tecnológicos e compromissos ambientais moldam o futuro das cadeias de suprimentos.


Em um mundo cada vez mais impactado por variáveis políticas, tecnológicas e ambientais, a resiliência no supply chain se mostra essencial para a continuidade e competitividade no comércio global. As mudanças trazidas pela pandemia, as tensões geopolíticas e a transição energética desafiam as empresas e os países a reavaliarem suas cadeias de suprimento e a adotarem práticas mais ágeis e sustentáveis. A diversificação de fornecedores, o nearshoring e o avanço em tecnologias de rastreamento são apenas algumas das estratégias que despontam para mitigar os riscos e assegurar o fluxo de mercadorias. Esse cenário exige uma visão integrada e adaptativa para que o supply chain não apenas se ajuste às incertezas, mas também prospere em um ambiente global de constante transformação.

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