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Foto do escritorRenan Leopoldo

Por que 18,9% dos formados em logística estão desempregados no Brasil?



Desemprego em formados de logística no Brasil

Pesquisa do instituto Semesp surpreende ao expor contradição entre alta demanda e desemprego de profissionais.


Uma pesquisa recente do Instituto Semesp revelou que 18,9% dos egressos de cursos superiores em Logística no Brasil estão desempregados, dado que contrasta com a crescente busca por mão de obra qualificada no setor. Realizada entre agosto e setembro, a pesquisa entrevistou 5.681 formandos de universidades públicas e privadas de todo o país. A divulgação pelo G1 trouxe à tona um dilema: como explicar essa taxa de desemprego em meio à demanda?

O fenômeno foi tema de destaque na edição de março/abril da revista MundoLogística, onde o especialista Luiz Carlos Roque Junior frisou que a falta de profissionais qualificados é uma barreira crescente para a competitividade global. Ele alerta que, em muitos casos, essa lacuna de talentos ameaça a capacidade das empresas de competir internacionalmente.


Desconexão entre qualificação e expectativas do mercado

Segundo o professor Orlando Fontes Lima Jr., da Unicamp, o problema se deve, em grande parte, à falta de alinhamento entre as competências exigidas pelas empresas e as habilidades adquiridas na academia. "Esses dois mundos não se conversam," observa ele. A velocidade das mudanças tecnológicas agrava o quadro, pois exige uma formação que se atualize com a mesma rapidez do mercado. No “Future of Jobs 2023”, o Fórum Econômico Mundial prevê uma transformação em um quarto dos empregos até 2027, com 69 milhões de novas vagas, mas também 83 milhões de cargos eliminados, especialmente em funções que podem ser automatizadas.

A formação acadêmica tradicional, orientada para a transmissão de conhecimento de forma linear, contrasta com a demanda do mercado por um profissional mais dinâmico e adaptável. “Poucas instituições desenvolvem habilidades aplicadas e comportamentais nos alunos,” destaca Lima. A especialista Carolina Cabral compartilha dessa visão e, em entrevista à MundoLogística, criticou a defasagem nas grades curriculares de Logística, que, segundo ela, carecem de uma atualização frente às práticas e exigências do mercado global.


O desafio comportamental dos egressos

Além das habilidades técnicas, o aspecto comportamental emerge como uma barreira para a empregabilidade. Carolina Cabral explica que o mercado espera atitudes específicas, como controle emocional e capacidade de comunicação, que não estão sendo suficientemente trabalhadas durante a formação. “Já se espera que o candidato tenha equilíbrio para lidar com uma entrevista, saiba ouvir o entrevistador e demonstre evidências concretas de suas habilidades,” comenta ela.


Uma pirâmide invertida no mercado de logística

Orlando Fontes Lima Jr. compara a estrutura da carreira em Logística a uma pirâmide com base larga e altura baixa, onde há poucos executivos e uma enorme demanda por mão de obra operacional. Esse cenário de “mão de obra intensiva” é marcado por uma reserva de profissionais desempregados que acaba por manter os salários baixos. Contudo, essa base também sofre com um déficit de líderes capacitados, já que muitos técnicos são promovidos a cargos de liderança sem o devido preparo, o que gera um ciclo problemático. Luciano de Paula, CEO da Mapa Avaliações, resume o problema: “Colocamos ótimos técnicos em posições de liderança, e acabamos por perder tanto um bom técnico quanto um líder eficiente.”


A desconexão entre a formação acadêmica e as necessidades do mercado de logística no Brasil revela um paradoxo preocupante: há vagas, mas faltam profissionais que atendam às exigências específicas. A demanda por atualização curricular, a capacitação técnica e comportamental, e o desenvolvimento de habilidades de liderança são imperativos para evitar que o talento formado nas universidades permaneça à margem do mercado. Em um setor vital e em constante transformação, as soluções para a empregabilidade em logística dependem de uma reestruturação do ensino e da valorização de um perfil profissional adaptável, estratégico e pronto para os desafios globais.

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