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Conexão Austrália: A logística de um país tão grande quanto o Brasil

O fim da greve dos caminhoneiros no Brasil também traz uma oportunidade de rever as nossas opções – longe do caos – no que diz respeito a transporte de mercadorias. O País é quase totalmente dependente do transporte rodoviário, visto a falta de ‘tudo’ nas prateleiras dos supermercados e nos postos de gasolina e os prejuízos gerados com a greve – o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário avalia que a economia deixou de movimentar mais de R$ 30 bilhões em bens e serviços durante a paralisação, reduzindo a arrecadação de impostos em cerca de R$ 5 bilhões.
Assim como o Brasil, a Austrália possui dimensões continentais. E como funciona o transporte de mercadorias nesse lado do planeta?
Muitas pessoas comentam que, “no primeiro mundo, as cargas são transportadas por ferrovias”. Bom, esse não é o caso da Austrália. Assim como no Brasil, a dependência do modal rodoviário é grande. Os caminhões movimentam cerca de 70% das mercadorias, 28% é via ferrovias e o restante é absorvido via transporte aéreo e hidroviário, segundo dados do Departamento de Infraestrutura. No Brasil, o modal rodoviário responde por mais de 60% do total de carga transportada, seguido também pelo ferroviário, com cerca de 20%; o restante é distribuído entre outros setores, segundo dados da Confederação Nacional de Transportes (CNT).
Olhando esses dados, é possível concluir que ambas as nações possuem opções parecidas, no que diz respeito a transporte interno de carga. Os números são aproximados e não mentem. Mas essa conclusão seria muito preliminar, uma vez que a distribuição dos modais não reflete eficiência. Ao contrário do Brasil, não há aqui conversas na fila do banco ou na padaria sobre greve de caminhoneiros, preço do diesel ou falta de abastecimento; caminhões, estradas, de onde vem as mercadorias ou preço da gasolina não são assuntos por aqui (difícil de ver até cobertura da imprensa sobre o tema transporte). A sensação é a de que o sistema é eficiente e, por isso, as pessoas nem se lembram da necessidade do transporte das mercadorias para poder comprá-las no varejo.
Para comparar as duas realidades, é essencial também olhar outros dados. O mais importante é a quantidade de produtos transportados. A Austrália possui uma população bem menor, consequentemente, a demanda por transporte no Brasil é maior: a diferença por ano supera os 100 bilhões de toneladas por quilômetro rodado. Mas a eficiência do transporte na Austrália também deve ser creditada à qualidade das estradas. Mesmo o Brasil possuindo mais que o dobro de estradas em comparação à Austrália (1.720.756,2 km, segundo dados do anuário da CNT - 2017), o problema reside no fato de que apenas 12% são asfaltadas. Na Austrália, mais de 40% das rodovias são pavimentadas e, destas, mais de 13 mil km são de vias expressas que possuem muito planejamento e engenharia para o aumento do fluxo de veículos, incluindo pontes, viadutos e túneis submersos.
É também relevante o fato de que a maior parte da população reside nas áreas costeiras, onde as vias de acesso dos caminhões são sempre pavimentadas. A rede de estradas australianas é tão bem construída que forma a espinha dorsal da infraestrutura no país. Aqui, como no Brasil, há três categorias de estradas: as rodovias federais, as estaduais e as locais; cada uma mantida pela administração da região.
Mesmo com tanta eficiência, o governo australiano reconhece a necessidade de aumentar a participação de outros modais no transporte nacional. As discussões nos níveis governamentais e empresarial miram o desenvolvimento principalmente das ferrovias. Alguns projetos nacionais já começaram a sair do papel, prevendo um aumento da população e da demanda de transporte nas próximas décadas. A vantagem é que a Austrália tem 300 anos a menos que o Brasil, muitas regiões ainda desabitadas, mais dinheiro e tempo para se planejar. Vejamos daqui a algumas gerações se o planejamento de hoje será eficiente no futuro. A sensação que dá é que o Brasil está bem atrasado na busca pela eficiência logística.
Fonte: http://www.atribuna.com.br/noticias/noticias-detalhe/atualidades/conexao-australia-a-logistica-de-um-pais-tao-grande-quanto-o-brasil/?cHash=f3aee271f878ac3296e8db27205fbbf4